Inicialmente,
importante destacar que esta reflexão não tem qualquer objetivo de criar
polêmica acerca do equívoco ou acerto das duas ações policiais que mencionarei
abaixo.
Hoje
durante a manhã, pela internet, tomei conhecimento dos dois fatos lamentáveis
envolvendo agentes das policias militar e civil do Estado do Rio Grande do Sul.
Um
primeiro caso, de um policial civil que reagiu a um assalto em um
estabelecimento comercial na cidade de Porto Alegre e acabou, assim como sua
mãe que o acompanhava, morto em troca de tiros com os assaltantes. (http://zerohora.clicrbs.com.br/rs/policia/noticia/2013/01/mae-e-filho-policial-sao-mortos-a-tiros-em-porto-alegre-4018689.html)
No
segundo caso, também na capital gaúcha, um agente da Brigada Militar, no
interior de um trem (Trensurb), buscando dar conta de um “tumulto” causado por
um homem que portava uma faca e ameaçava os passageiros, dispara contra o
abdômen do mesmo, sendo que o projétil transpassa o corpo lesionandoa perna de um
passageiro do coletivo. (http://zerohora.clicrbs.com.br/rs/geral/noticia/2013/01/policial-atira-em-suspeito-que-ameacava-passageiros-com-uma-faca-no-trensurb-4018879.html)
Os
dois episódios encontram, por óbvio, inúmeras conexões. No entanto, gostaria de
destacar um aspecto relacionado com um debate que me parece abandonado (ou
ocultado) no âmbito das nossas discussões (especialmente acadêmicas) e que encontrei,
pela primeira vez, sugerido no capítulo quarto do livro clássico “Em busca das
penas perdidas” do jurista latino-americano Eugenio Raúl Zaffaroni, cuja
denominação utilizo na primeira parte do título: as agências executivas como máquinas de policiar!
Neste
livro, cuja primeira edição nos remete para o início dos anos 90, Zaffaroni já
alertava: Tem se falado bastante, nos
últimos anos, no processo de criminalização, mas tem-se falado muito pouco no
processo de policização, igualmente deteriorante... (p. 138). Resumidamente,
ele representa um processo de deterioração daqueles que se incorporam às chamadas
agências militarizadas do sistema penal (destaca-se aqui as polícias militares
e civis, sendo estas últimas também consideradas militarizadas em sua
estruturação e regulação) e que promove o esfacelamento da identidade original
e substituição por uma identidade artificial, funcional ao exercício do poder
da agência (p. 141).
Tal
processo é, sem dúvida, de caráter complexo e multifacetado e a apreciação
aprofundada dele não cabe neste pequeno texto.
Apenas
gostaria de destacar aquilo que, desde meu ponto de vista, está relacionado com
a produção dos “estereótipos do policial e sua profecia auto-realizadora” como
“herói”, “justiceiro”, uma espécie de “Stallone Cobra” (o crime é a doença eu sou a cura). Aquele que na “guerra contra o
inimigo”, na “luta contra o crime”, é empurrado a comportar-se ora como
homicida, ora como suicida.
Aqui
se começa a perceber o liame olvidado entre os dois casos: indiferença em relação à morte alheia e coragem nos limites suicidas,
que são produzidos por discursos moralizantes das próprias instituições
policiais e potencializados pela mídia.
Parece-me
que se revelam aqui dimensões importantes no que diz respeito à “socialização
policial violenta” do agente, o que, resgatando a segunda parte do
título, nos mostra: tratando-se
de sistema penal todos os policiais são vítimas!
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